domingo, 15 de janeiro de 2017

Casamento no Antigo Egito

Iniciando o Blog sobre o antigo Egito (uma paixão minha) com o primeiro post falando sobre a cultura antiga ....


Casamento no Antigo Egito


O que concebemos por casamento hoje em dia é na verdade um ritual, mas na antiguidade não era assim. Ptah-hoteb foi um vizir do faraó Djedkare Isesi, da V Dinastia (isso quer dizer 2414-2375 a.C.) e escreveu vários ensinamentos que falam sobre a vida e costume do Antigo Egito.


Ptah-hotep

Estes ensinamentos foram descobertos pelo pelo egiptólogo Francês Émile d’ Avennes, no século XIX  na necrópole de Tebas, hoje o papiro se encontra na biblioteca Nacional da França. Enfim, neste papiro há recomendações que homem e a mulher deveriam fundar uma família quando as condições materiais assim o permitissem, nestes ensinamentos, o tanto o homem, quanto a mulher eram aconselhados a amarem e respeitarem o seu parceiro e, a questão da monogamia ou poligamia era algo que o casal discutia, pois a igualdade entre os sexos era um fato natural e comum à sociedade egípcia. 

A mulher egípcia teve um status privilegiado em comparação com outras civilizações antigas, pois ela tinha direitos iguais ao do homem tanto no que referia ao status social e econômico. Relações de inferioridade ou qualquer outro tipo de problema relacionado com a posição da mulher em sua sociedade, ressaltando que eram iguais tanto em dignidade como em direito. 



Príncipe Rahotep e sua esposa Princesa Nofret. Início da IV Dinastia. Pedra calcária pintada, com olhos incrustados; altura 1,20 m.
As mulheres egípcias casavam entre os 12 e os 14 anos, enquanto que os homens o fariam por volta dos 16, 17 anos, mas não podemos usar isso como parâmetro de dias atuais, porque a perspectiva de vida era bem mais baixa do que hoje em dia.

Ainda falando sobre a poligamia era somente uma questão prática e sem valor jurídico (na família real a situação era outra, veremos mais adiante). O valor jurídico ou moral, em que a esposa e os filhos tinham direito a parte do patrimônio do marido, esta questão influenciava a decisão de ter ou não uma segunda esposa, ou que esta fosse uma escrava; mais posses, poderia ter outras esposas, sem posses, família reduzida.

Outro fator bem importante é que a mulher egípcia não tinha uma tutela obrigatória como as outras civilizações da época, quem escolhia o marido era o pai, mas a moça tinha liberdade de escolha também (caso que não se aplica à família real). Heródoto mencionou diversas vezes em seus escritos históricos que as leis e costumes egípcios eram contrários ao resto do mundo, pois a mulher tinha plenos poderes sobre o marido e, por muitas vezes, a família era matriarcal.


Nefertári - exemplo de mulher egípcia. Afrescos funerários - Tumba de Nefertári - Vale das Rainhas - Egito


Na sociedade em geral, o casamento não era uma comemoração, na verdade, o pai ou os pais levavam a moça (noiva) para a casa do futuro esposo e lá eles trocavam juras simples de união, um afirmando ao outro o desejo de coabitarem e formarem uma família. Era comum também rogar ao parente que havia falecido mais próximo que ajudasse na concepção de um filho. 

Quando queriam se separar, o mesmo acontecia, o cônjuge vocalizava a vontade de separar e estava feito, isso porque o casamento era uma união de ideal social e afetivo. Não havia uma lei para o casamento, só seguir o caminho da justiça, estabelecida pela deusa Maat. Fidelidade era considerada a maior garantia desta união e o adultério, tanto masculino quanto feminino era motivo para separação imediata.

Anão Seneb e sua família - VI Dinastia. Pedra calcária.

O casamento real

Já o casamento de um faraó com sua rainha tinha conotações políticas, sociais e econômicas e até étnicas. Geralmente o faraó possuía mais de uma esposa, sendo a Grande Esposa Real a rainha e aquela que gerava o herdeiro do trono. As demais esposas eram uma consequência de alianças políticas, trocas de favores políticos e sociais. As famílias reais eram grandes e não existia uma cerimônia que "oficializasse" o enlace e sim situações que definiam a Grande Esposa Real. As situações eram: família e o conceito de esposa real. A esposa mais adequada para um faraó era a filha de seu predecessor - sua irmã, ou sua própria filha, mas isso era uma questão cultural e completamente diferente do que encaramos hoje, as relações incestuais no antigo Egito tinham uma conotação étnica e de manter a linhagem real com o mesmo "sangue". Ramsés II teve 8 esposas, 2 delas eram suas filhas

Uma esposa real deveria ser letrada e iniciada nas artes ocultas da religião egícpia. Em raríssimos casos eram de outros países, como nos conta a história da Grande Esposa Real de Anchesenpaaton (Tutancamon), Anchesenamon que quando Tutancamon morreu ofereceu-se como esposa para um dos filhos do rei hitita Suppiluliuma, mas isso é para um outro post.

Toda a sociedade egípcia sabia que a criança que nascia da Grande Esposa Real tinha o direito divino ao trono e havia sido concebido pelos deuses, portanto se um faraó se casasse com sua irmã ou meia irmã, o poder faraônico era fortalecido e abençoado pelos deuses.

Tutankamon e Anaksunamun - Trono real - Museu Egípcio - Cairo


"Os herdeiros da coroa devem ser filhos da Grande Esposa Real; se eles são apenas filhos do rei, nascidos de uma mulher secundária, é-lhes necessário então, para reforçar seu "potencial sobrenatural", desposar sua meia-irmã, filha do verdadeiro casal faraônico. Se isso não acontecer, é preciso recorrer aos clássicos subterfúgios aos quais os sacerdotes se prestam de muito bom grado como, por exemplo: reconhecimento e autenticação do príncipe herdeiro pelo oráculo do deus. (...) As filhas reais desempenhavam, portanto, um papel muito importante."  Christiane Desroches Noblecourt - egiptóloga francesa





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