terça-feira, 31 de janeiro de 2017

AS MULHERES DO ANTIGO EGITO - PARTE 2

Boa Noite, chegamos com a segunda parte do tema da semana.


No texto de ontem vimos que as mulheres da sociedade egípcia antiga alcançaram posições elevadas, e que gozavam de direitos jurídicos, Mas vamos elucidar alguns fatos: quando falamos de mulheres, não podemos ter uma noção homogênea desse grupo, mulheres com posições sociais mais elevadas possuíam maior acesso a esses direitos.

Deste modo, a sociedade não pode ser vista como homogênea, pois as  mulheres de classes mais abastadas possuíam maior acesso a recursos como a educação, mas é de concordância geral entre pesquisadores que o papel da mulher, seja em qualquer classe econômica, era de cuidar do lar, dos idosos e dos filhos, portanto, a mulher do antigo Egito era sobrecarregada em suas responsabilidades.

Para Morley e Salariya (1999) a lei egípcia reconhecia seus direitos e elas podiam ir aos tribunais reclamá-los, caso sentissem que estavam sendo tratadas de modo injusto. “as mulheres eram bem tratadas no antigo Egito. Elas podiam receber uma remuneração e ter propriedades”. (p.34). 

A lei egípcia garantia a mulher possibilidade de prestar queixa do marido que a maltratava, esse aspecto denota que o papel da mulher não era de inferioridade. Por exemplo, quando pensamos em casamento na antiguidade, nos vem a mente uma imagem de cerimônias complexas e noivos arranjados, porém, o casamento na sociedade antiga dependia da vontade do casal e era assinado uma espécie de contrato estabelecendo os direitos da mulher, como o divórcio.  Falando nesse aspecto nem parece que a sociedade egípcia era regida por uma forte influência religiosa, mas para esse momento, não se tem registros de grandes cerimônias religiosas. Leia o post sobre o casamento aqui


Amanhã falaremos sobre a forte presença feminina no panteão egípcio.

Até mais!







segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

AS MULHERES DO ANTIGO EGITO - PARTE 1

Olá, boa noite!


Essa semana apresentaremos um tema muito interessante: o papel da mulher na sociedade do antigo Egito.

Desde a época proto-dinástica, ou até mesmo antes, a mulher ocupou uma posição importante na sociedade egípcia e possuía praticamente os mesmos direitos que o homem, elas chegaram a alcançar postos que somente na sociedade atual mulheres conseguiram alcançar.

Primeiramente, vamos situar nosso período histórico. Em textos anteriores falei que o Egito situava-se no nordeste da África às margens do Rio Nilo, e por se tratar de uma região perto do deserto do Saara, o rio tornou-se muito importante para aquela civilização. Sabemos também que a sociedade  se estruturava em torno da figura do faraó, este era responsável por decisões políticas, funções religiosas, etc. 

Imaginando uma pirâmide social, o faraó estaria no topo, abaixo viriam os nobres, sacerdotes, soldados, escribas, comerciantes, artesãos, camponeses e escravos, é nesse universo social em que destacaremos nosso estudo: a mulher. Na literatura escriba, as mulheres eram retratadas em atividades domésticas, cuidando da família, dos afazeres do campo e tecelagem, o que muitos historiadores, baseados nessa representação, acharam que a mulher exercia um papel de submissão.

A pesquisadora Gloria Maria Pratas, afirma que através de um olhar mais aguçado, pode-se concluir que havia uma hierarquia social constituída por critérios econômicos e religiosos, porém a posição da mulher na sociedade egípcia exerceu um caráter bem próxima ao do homem.

Ambos sexos eram responsáveis pela divisão do trabalho, os homens eram responsáveis pela caça e pesca e as mulheres pelo cultivo do campo e afazeres domésticos.

Apesar da discriminação sofrida pelas mulheres ao longo da história, a figura feminina no Egito, se comparada a outras civilizações antigas, com certeza gozava de uma posição social e jurídica privilegiada. Os textos jurídicos encontrados, tratam do casamento, da gestão dos bens, sem esquecer o divórcio, o futuro do patrimônio dos filhos e as questões de herança. (PRATAS, p.6, 2011)

As mulheres do antigo Egito tinham direitos jurídicos, mas que fique claro que se tratava de mulheres com uma situação social mais abastada.

Amanhã falaremos mais sobre esses direitos, está curioso?

Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4
Parte 5


sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

FORMAÇÃO DO EGITO - ÚLTIMA PARTE

Boa noite, chegamos a última parte do nosso tema da semana, a formação do Egito.



No texto de ontem vimos que o historiador grego Mâneton, que viveu em Alexandria na época da XXXI Dinastia, fez uma lista de todos os faraós do Egito, e o unificador dos dois Egitos teria sido um faraó chamado Menés (nome grego para Narmer). Com o grande incêndio e destruição da biblioteca de Alexandria não se sabe quais fontes usadas pelo historiador. 
Coroa Dupla: Pschent. Representando
Unificação do Egito

Narmer é o primeiro faraó que a arqueologia tem indícios para considerar ele como o grande Menés. A lendária paleta de Narmer, que mostra em uma de suas faces, o faraó com a coroa branca do Alto Egito, e na outra face, o faraó usa a coroa vermelha do Baixo Egito.

Os sucessores de Narmer mantiveram a prática de se casarem com as princesas do norte, e fizeram de tudo para manter a união como um acordo entre as partes e não como uma imposição, porém a destruição da monarquia do Baixo Egito e seu Deus, Hórus "servindo" a Set, fez eclodira diversa revoltas e a I Dinastia acabou se encerrando de forma trágica, com o assassinato do Faraó Qa'a. 


A primeira e segunda Dinastias também são chamadas de período proto Dinástico. A II Dinastia começa com o faraó Hotepsekhmuy, esse nome significa "dois poderes estão pacificados", o que indicaria uma solução pra a crise que se estabeleceu no final da I Dinastia, mesmo assim aconteceram novas crises mais tarde, como a conspiração de Peribsen para derrubar o faraó Nineter (com sucesso), porém o governo de Peribsen foi um total fracasso.

O Faraó Khasekhem assume poder restaurando a crise que não volta mais acontecer, e agora se vê o Deus Hórus como o principal Deus da monarquia egípcia, provavelmente para apaziguar a fúria da população do baixo Egito, o que deu certo, pois a partir daí o Egito seguiu unificado por mais quatro dinastias.

O poder do faraó se tornava maior, dando um status de semi-deus a quem ocupasse o trono, e a ideia de proteção após a morte desse indivíduo vai se tornando mais forte, nasce daí as técnicas de mumificação com objetivo de evitar a putrefação do corpo. Lembrando que as pirâmides aparecem muito tempo depois do período proto dinástico. O endeusamento, ou melhor a deificação do faraó, se concretiza na III Dinastia, aliada à crença na vida após a morte (mumificação).

Assim está configurado o Egito. 


Bibliografia


ABREU, Aurélio M.G.. “Civilizações que o Mundo Esqueceu”. São Paulo: Hemus.
CARDOSO, Ciro Flamarion. “O Egito Antigo”. São Paulo: Brasiliense, 1982.
GIORDANI, Mário Curtis. “História da Antiguidade Oriental”. Petrópolis: Vozes, 2001.
JOHNSON, Paul. “História Ilustrada do Egito Antigo”. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.
SOFRI, Gianni. “O Modo de Produção Asiático: História de uma Controvérsia Marxista”. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.



quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

A FORMAÇÃO DO EGITO - PARTE 4

Boa noite!!! 


A penúltima parte do nosso tema da semana: A formação do Egito. 



Por volta do início do V milênio, grupos de homens  começaram a se fixar em oásis e nas margens do Nilo..Os processos migratórios desse tempo são complexos e confusos, mas o certo é que por volta do ano de 4.500 a.C. muitas comunidades estavam estabelecidas às margens do Nilo, essas comunidades formavam vilas e eram administradas por vilas maiores. Essas vilas chamavam-se "Nomo".

A teoria da "hipótese causal hidráulica", apesar de coerente, (os egípcios viviam da pesca e da inundação do rio que fertilizava o solo para agricultura) já não é mais tão bem aceita por historiadores, pois não há documentos que comprovem o controle do Estado Egípcio dos meios de irrigação do rio Nilo.

Falamos sobre a etnia egípcia e sua complexidade, além da visão artificial que se tem do antigo Egito, onde não se relaciona essa importante civilização com a história da África. O período pré-dinástico, foi caracterizado por muitas guerras e conflitoso que resulta na formação dos dois Egitos. O alto e baixo Egito.

A unificação dos Nomos foi um processo que precisou muito além de forças e alianças militares, alguns historiadores dizem que se não fosse a escrita, provavelmente essa união nunca teria acontecido. A escrita é necessária para controle de tributos, arsenal militar e da população, se faz necessária para a contagem das terras e registros de grandes feitos. A escrita, provavelmente vem da influência de imigrantes da Mesopotâmia.

Paleta de Narmer

Nós vimos ontem que no vale do Nilo, a política se transformava através de tratados e conquistas, formando então o Alto Egito, povo de Set. Já no delta, devido às influências citadas acima, os nomos se unificavam em Baixo Egito, povo de Hórus. Configura-se então o Alto Egito, localizado no Vale do Nilo e o Baixo Egito, localizado no Delta do Nilo.

O historiador grego Mâneton, que viveu em Alexandria na época da XXXI Dinastia, fez uma lista de todos os faraós do Egito, e o unificador dos dois Egitos teria sido um faraó chamado Menés (nome grego para Narmer). Com o grande incêndio e destruição da biblioteca de Alexandria não se sabe quais fontes usadas pelo historiador.

Coroa Branca(Hedjet) / Coroa Vermelha (Desheret)
Narmer é o primeiro faraó que a arqueologia tem indícios para considerar ele como o grande Menés. A lendária paleta de Narmer, que mostra em uma de suas faces, o faraó com a coroa branca do Alto Egito, e na outra face, o faraó usa a coroa vermelha do Baixo Egito. Segundo a tradução de Sir Alan Gardiner, um dos maiores especialistas contemporâneos em hieróglifos, apesar de a escrita do tempo de Narmer, é possível notar que Narmer está sendo saudado como conquistador do norte (Baixo Egito), tendo matado 1400 homens e capturado 400 mil bois e 1,422 milhão de cabras, além dos estandartes dos Nomos do Baixo Egito.

Coroa Dupla: Pschent. Representando
Unificação do Egito
Ontem, falei que o Alto Egito tinha como sua principal divindade Set e do Baixo Egito era Hórus, se o Baixo Egito foi conquistado, por que Hórus se torna Deus da monarquia Egípcia?

Narmer, talvez estivesse com disposição para apaziguar a região conquistada, dando uma consciência de unidade em relação a seu conquistador. Narmer casou-se com uma princesa do Baixo Egito e iniciou-se  assim a construção de um Palácio, esse palácio ficava localizado quase na divisa dos dois Egitos e ali foi fundada Mênfis, a capital do Egito unificado.

Os sucessores de Narmer mantiveram a prática de se casarem com as princesas do norte, e fizeram de tudo para manter a união como um acordo entre as partes e não como uma imposição, porém a destruição da monarquia do Baixo Egito e seu Deus, Hórus "servindo" a Set, fez eclodira diversa revoltas e a I Dinastia acabou se encerrando de forma trágica, com o assassinato do Faraó Qa'a. 

Amanhã, na última parte falaremos mais sobre as Dinastias, religião e práticas funerárias...



quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

FORMAÇÃO DO EGITO - PARTE 3

Boa noite, tudo bem?


Hoje chegaremos com a terceira parte da nossa série dessa semana, a formação do Egito. Já vimos sobre os Nomos, a etnia egípcia, a organização dessas vilas.

Por volta de 3.100 a.C. os Nomos viviam em guerras constantes e assim começa a surgir os primeiros Estados Egípcios e a sua cosmologia, pois a medida que as vilas se anexam, as hierarquias se sobrepõem e dessa forma começa a surgir uma espécie de hierarquia divina.

Provavelmente cada Nomo tinha sua divindade e muitas delas em comum, o que resultava em importantes alianças militares. Por volta  de 3.400 a.C. começou a ter uma infiltração de mesopotâmios na região do Delta, o que pode ter sido resultado ou de conquistas ou de uma migração. O fato é que, com essa movimentação se inseriu novas ideias e tecnologias para o Egito, (como a escrita).  

Essas novas ideias foram responsáveis pela aceleração e processo de unificação daquela região, inclusive existem teorias que associam o culto ao deus Hórus a essas migrações ou conquistas, sendo assim, aquele que viria a ser um dos principais deuses do Panteão Egípcio.

No vale do Nilo, a política se transformava através de tratados e conquistas, formando então o Alto Egito, povo de Set. Já no delta, devido às influências citadas acima, os nomos se unificavam em Baixo Egito, povo de Hórus. Configura-se então o Alto Egito, localizado no Vale do Nilo e o Baixo Egito, localizado no Delta do Nilo.

Este é o cenário que dará origem ao Estado que será unificado.

O texto de hoje foi curtinho, amanhã falaremos mais sobre os símbolos monárquicos e a unificação das coroas do Alto e Baixo Egito.

Até amanhã...




terça-feira, 24 de janeiro de 2017

A FORMAÇÃO DO EGITO - PARTE 2

Olá, tudo bom? Chegou a segunda parte do nosso tema da semana, a formação do Egito.  



Vimos que há aproximadamente quatro mil e quinhentos anos antes de cristo, haviam grupos de homens situados às margens do Nilo e esses grupos formavam os Nomos. 

A "Hipótese Causal Hidráulica" é uma teoria muito coerente para a explicação da origem da civilização egípcia.

Hoje falaremos sobre a etnia egípcia antiga, e o período pré dinástico.


O Egito está localizado ao nordeste do continente africano, o rio Nilo foi peça fundamental para que essa grande civilização  se formasse no continente. Gosto muito de destacar que o Egito faz parte da África, pois a historiografia tentou apagar esse fato importante, tanto que se ensina Egito Antigo separado da história da África nas escolas (isso quando a história africana é ensinada).

Desde a unificação dos Nomos, passaram pelo Egito diversas raças e etnias: Núbios; Líbios; Judeus; Hititas; Fenícios; Acadianos; Assírios; Persas; Árabes; Gregos; Romanos, etc.

Falar sobre a etnia é complicado, visto que a história eurocêntrica sempre tentou deixar negros e outras etnias bem longe dos grandes acontecimentos históricos, a imagem do antigo Egito é muito artificial, tanto que poucos a associam com a imagem africana. Ainda incomoda muita gente falar sobre a negritude do antigo Egito, e de sua diversidade de raças e etnias. 

Livro de Cheikh Anta Diop
Cheikh Anta Diop, historiador,, egiptólogo e antropólogo senegalês (1923-1986) chamou a atenção para estudos de esqueletos e crânios dos antigos egípcios, do período pré-dinástico (6000 A.C), que mostravam que, essas pessoas eram negroides, com características muito semelhantes às dos modernos núbios negros.  O historiador também realizou teste de dosagem de melanina em múmias do museu do homem, em Paris, e pode constatar, pelos níveis de melanina, que se tratava de um povo negro.

Analisando pinturas, percebe-se variações de tons de pele do povo daquela época, até mesmo Cheikh  foge da ideia de purismo, pois o Egito se forma da miscigenação e de um caldeirão de influências.

Tentei discorrer de uma forma simples um assunto muito complexo, como o da etnia do antigo Egito. Na série de hoje também será apresentado a política dos Nomos e sua evolução para o período pré-dinástico.

Como populações recém estabelecidas às margens do nilo de forma sedentária, precisava de uma nova forma de organização dessas sociedades, visto que aquela das tribos nômades não servia mais. A política provavelmente era baseada em lideranças familiares, e as mulheres tomavam a frente nessa organização, dizem isso com base nos cultos Neolíticos a uma grande entidade feminina.

Provavelmente essas lideranças eram responsáveis pelos recursos e sua distribuição para irrigação, culto e defesa da vila. Havia um conselho, chamado Saru, compostos por pessoas idosas que se ocupavam da esfera religiosa, sendo assim considerados grandes sacerdotes e governantes dos Nomos, os "Nomarcas".

Importante salientar que a religião sempre foi importante para o Egito, e no período formativo é mais relevante ainda. As técnicas de cultivos e a dominância das cheias do Nilo eram muito rudimentares, imagina-se que havia faltas constantes de alimentos e em um mundo povoados por muitos deuses e muitos inimigos, imagina-se um cenário de guerras constantes entre os Nomos. 

Assim era o período pré-dinástico, muitas guerras e conflitos, fique ligado, pois amanhã falaremos mais sobre essas guerras e a formação dos dois Egitos (isso mesmo, dois). Curioso?

Tem mais amanhã. 

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

A FORMAÇÃO DO EGITO - PARTE 1


Essa semana, apresentaremos uma série em 5 partes sobre a formação do Egito, para todos aqueles que possuem curiosidade em saber como essa grande civilização surgiu. 


A civilização egípcia é fascinante! Não é mesmo? Quando se fala em Egito, logo nos vem a mente o Nilo e o vasto deserto do Saara, essas são duas características importantes que ajudaram a delimitar o país. Muitos conhecem as maravilhas desse mundo antigo, e poucos se perguntam como tudo isso nasceu.

Que povo foi esse que se juntou às margens do Nilo e construiu uma das maiores civilizações do mundo?

Por volta do início do V milênio, grupos de homens  começaram a se fixar em oásis e nas margens do Nilo. Muitos e muitos anos antes, o vasto deserto do Saara não era assim tão seco, a região sofreu um longo processo de ressecamento, e por esse motivo, talvez, esses grupos (outrora nômades) se acomodaram nesses locais. 

Os processos migratórios desse tempo são complexos e confusos, mas o certo é que por volta do ano de 4.500 a.C. muitas comunidades estavam estabelecidas às margens do Nilo, essas comunidades formavam vilas e eram administradas por vilas maiores. Essas vilas chamavam-se "Nomo". Provavelmente se agrupavam a partir de uma crença religiosa,ou seja, deuses em comum. Esses deuses eram zoomórficos, veneravam animais e suas características.


Deserto do Saara

A teoria mais bem aceita para a explicação da unificação desses nomos em um grande "país" sob controle de uma única autoridade, era a "Hipótese Causal Hidráulica", referente a grandes "civilizações hidráulicas" da antiguidade como o Egito e a Mesopotâmia. Essa teoria, consolidada pelo sociólogo alemão Karl August Wittfogel, baseado na teoria marxista, tentou explicar a organização social dessas antigas civilizações com base na dependência  e controle econômico pelo Estado dos rios e seus meio de produção.

Essa teoria, apesar de coerente, (os egípcios viviam da pesca e da inundação do rio que fertilizava o solo para agricultura) já não é mais tão bem aceita por historiadores, pois não há documentos que comprovem o controle do Estado Egípcio dos meios de irrigação do rio Nilo.

O fato é que esses nomos se unificaram e formaram o que a gente conhece como a Dádiva do Nilo: o Egito

A dádiva do Nilo: Egito


Amanhã falaremos sobre a etnia egípcia e os primeiros faraós, fiquem ligados!

Bibliografia será apresentada na última parte!

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Livro dos Mortos do Antigo Egito - Um breve resumo



Cortejo Fúnebre do escriba Ani. No centro a esposa Tutu.

O Livro dos Mortos do Antigo Egito cujo o nome original era "Saída para a Luz do Dia" é na verdade um conjunto de papiros com encantamentos, rezas e rituais mágicos e sagrados para o morto acordar para a outra vida. Este livro é um ritual funerário, já que os antigos egípcios cultuavam a morte e a vida após a morte.

Este livro se destina a guiar a alma do defunto pelo Além, ele orienta o que fazer logo após transpor a "Porta da Morte"! Após o susto ele precisa retornar ao corpo que acaba de abandonar, porém as divindades encarregadas de guiá-lo arrastam-no para longe do ataúde!


Papiro de Ani, onde o Ka (espírito) tenta retornar ao corpo que se encontra no sarcófago.

Neste cenário, começa a caminhada no além, onde ele precisa atravessar uma região de trevas povoado por monstros, onde faltam ar e água!
Logo após ele chega a terra de Amenti, terra de Osíris onde precisa ser julgado!


Papiro de Ani, chegada a terra de Amenti, apresenta-se ao deus Osíris
Aqui ele precisa ficar de pé ante o principal de seus juízes, Osíris. Atrás de Osíris estão Ísis e Néftis, irmãs de Osíris. Diante de Osíris, o defunto pronuncia as palavras sagradas e a união mística finaliza a ligação de sua alma com a do deus Osíris.

Depois de unir sua alma ao do deus Osíris, o defunto ainda é conduzido por Hórus ou Anúbis a um tribunal composto por 42 juízes. A deusa Maat, da verdade e da justiça e o deus Thot, o escrivão, estão presentes.



Papiro de Ani. Julgamento pelas 42 juízes = Deuses.

Após esta apresentação, o defunto precisa afirmar perante os deuses que nunca prejudicou ninguém, nunca desejou mal a ninguém e que sempre foi honesto. Neste momento, Anúbis pesa o coração do morto na balança da verdade e da justiça. Seu coração precisa ser mais leve do que a pena de Maat. Se for, ele sobe aos céus, na Barca de Rá, porém, se seu coração for mais pesado, o deus Sobek, que está junto de Anúbis comerá o coração do morto e ele nunca poderá usufruir da vida eterna, Sobek também era chamado de o devorador dos injustificados. O que era um sacrilégio para a sociedade do antigo Egito.



Papiro de Ani. O coração sendo pesado por Anúbis, o deus Thot registrando a pesagem e Sobek abaixo da balança.

Este é um post com uma visão geral do Livro dos Mortos. O livro contém os textos mágicos e sagrados para que a alma do morto possa sair para a luz do dia.

Neste link, há um vídeo excelente que exemplifica o que foi mencionado no post. E nos posts futuros, vamos falar mais profundamente sobre os textos fúnebres e mágicos do Livro dos Mortos.

domingo, 15 de janeiro de 2017

Casamento no Antigo Egito

Iniciando o Blog sobre o antigo Egito (uma paixão minha) com o primeiro post falando sobre a cultura antiga ....


Casamento no Antigo Egito


O que concebemos por casamento hoje em dia é na verdade um ritual, mas na antiguidade não era assim. Ptah-hoteb foi um vizir do faraó Djedkare Isesi, da V Dinastia (isso quer dizer 2414-2375 a.C.) e escreveu vários ensinamentos que falam sobre a vida e costume do Antigo Egito.


Ptah-hotep

Estes ensinamentos foram descobertos pelo pelo egiptólogo Francês Émile d’ Avennes, no século XIX  na necrópole de Tebas, hoje o papiro se encontra na biblioteca Nacional da França. Enfim, neste papiro há recomendações que homem e a mulher deveriam fundar uma família quando as condições materiais assim o permitissem, nestes ensinamentos, o tanto o homem, quanto a mulher eram aconselhados a amarem e respeitarem o seu parceiro e, a questão da monogamia ou poligamia era algo que o casal discutia, pois a igualdade entre os sexos era um fato natural e comum à sociedade egípcia. 

A mulher egípcia teve um status privilegiado em comparação com outras civilizações antigas, pois ela tinha direitos iguais ao do homem tanto no que referia ao status social e econômico. Relações de inferioridade ou qualquer outro tipo de problema relacionado com a posição da mulher em sua sociedade, ressaltando que eram iguais tanto em dignidade como em direito. 



Príncipe Rahotep e sua esposa Princesa Nofret. Início da IV Dinastia. Pedra calcária pintada, com olhos incrustados; altura 1,20 m.
As mulheres egípcias casavam entre os 12 e os 14 anos, enquanto que os homens o fariam por volta dos 16, 17 anos, mas não podemos usar isso como parâmetro de dias atuais, porque a perspectiva de vida era bem mais baixa do que hoje em dia.

Ainda falando sobre a poligamia era somente uma questão prática e sem valor jurídico (na família real a situação era outra, veremos mais adiante). O valor jurídico ou moral, em que a esposa e os filhos tinham direito a parte do patrimônio do marido, esta questão influenciava a decisão de ter ou não uma segunda esposa, ou que esta fosse uma escrava; mais posses, poderia ter outras esposas, sem posses, família reduzida.

Outro fator bem importante é que a mulher egípcia não tinha uma tutela obrigatória como as outras civilizações da época, quem escolhia o marido era o pai, mas a moça tinha liberdade de escolha também (caso que não se aplica à família real). Heródoto mencionou diversas vezes em seus escritos históricos que as leis e costumes egípcios eram contrários ao resto do mundo, pois a mulher tinha plenos poderes sobre o marido e, por muitas vezes, a família era matriarcal.


Nefertári - exemplo de mulher egípcia. Afrescos funerários - Tumba de Nefertári - Vale das Rainhas - Egito


Na sociedade em geral, o casamento não era uma comemoração, na verdade, o pai ou os pais levavam a moça (noiva) para a casa do futuro esposo e lá eles trocavam juras simples de união, um afirmando ao outro o desejo de coabitarem e formarem uma família. Era comum também rogar ao parente que havia falecido mais próximo que ajudasse na concepção de um filho. 

Quando queriam se separar, o mesmo acontecia, o cônjuge vocalizava a vontade de separar e estava feito, isso porque o casamento era uma união de ideal social e afetivo. Não havia uma lei para o casamento, só seguir o caminho da justiça, estabelecida pela deusa Maat. Fidelidade era considerada a maior garantia desta união e o adultério, tanto masculino quanto feminino era motivo para separação imediata.

Anão Seneb e sua família - VI Dinastia. Pedra calcária.

O casamento real

Já o casamento de um faraó com sua rainha tinha conotações políticas, sociais e econômicas e até étnicas. Geralmente o faraó possuía mais de uma esposa, sendo a Grande Esposa Real a rainha e aquela que gerava o herdeiro do trono. As demais esposas eram uma consequência de alianças políticas, trocas de favores políticos e sociais. As famílias reais eram grandes e não existia uma cerimônia que "oficializasse" o enlace e sim situações que definiam a Grande Esposa Real. As situações eram: família e o conceito de esposa real. A esposa mais adequada para um faraó era a filha de seu predecessor - sua irmã, ou sua própria filha, mas isso era uma questão cultural e completamente diferente do que encaramos hoje, as relações incestuais no antigo Egito tinham uma conotação étnica e de manter a linhagem real com o mesmo "sangue". Ramsés II teve 8 esposas, 2 delas eram suas filhas

Uma esposa real deveria ser letrada e iniciada nas artes ocultas da religião egícpia. Em raríssimos casos eram de outros países, como nos conta a história da Grande Esposa Real de Anchesenpaaton (Tutancamon), Anchesenamon que quando Tutancamon morreu ofereceu-se como esposa para um dos filhos do rei hitita Suppiluliuma, mas isso é para um outro post.

Toda a sociedade egípcia sabia que a criança que nascia da Grande Esposa Real tinha o direito divino ao trono e havia sido concebido pelos deuses, portanto se um faraó se casasse com sua irmã ou meia irmã, o poder faraônico era fortalecido e abençoado pelos deuses.

Tutankamon e Anaksunamun - Trono real - Museu Egípcio - Cairo


"Os herdeiros da coroa devem ser filhos da Grande Esposa Real; se eles são apenas filhos do rei, nascidos de uma mulher secundária, é-lhes necessário então, para reforçar seu "potencial sobrenatural", desposar sua meia-irmã, filha do verdadeiro casal faraônico. Se isso não acontecer, é preciso recorrer aos clássicos subterfúgios aos quais os sacerdotes se prestam de muito bom grado como, por exemplo: reconhecimento e autenticação do príncipe herdeiro pelo oráculo do deus. (...) As filhas reais desempenhavam, portanto, um papel muito importante."  Christiane Desroches Noblecourt - egiptóloga francesa